terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O apocalíptico metamorfoseado dos yankees!!!


domingo, 21 de dezembro de 2014

MUDANÇA DE REGIME EM CUBA



Paul Craig Roberts

A normalização de relações com Cuba não é o resultado de um grande avanço diplomático ou de uma mudança de atitude por parte de Washington. A normalização é resultado da busca de oportunidades de lucro em Cuba por parte das corporações estado-unidenses, tais como o desenvolvimento de mercados da Internet de banda larga em Cuba.

Antes de a esquerda americana e o governo cubano encontrarem felicidade na normalização, deveriam considerar que com a normalização vem o dinheiro americano e uma embaixada dos EUA. O dinheiro americano tomará o comando da economia cubana. A embaixada será um lar para operacionais da CIA subverterem o governo cubano. A embaixada proporcionará uma base a partir da qual os EUA possam estabelecer ONGs cujos crédulos membros podem ser chamados a protestos de rua no momento certo, como em Kiev, e a embaixada fará o possível para Washington preparar um novo conjunto de líderes políticos.

Em suma, normalização de relações significa mudança de regime em Cuba. Em breve Cuba será mais um dos estados vassalos de Washington.

Conservadores e republicanos, tais como Peggy Noonan e senador Marco Rubio, deixaram claro que Castro é "um homem mau que transformou um quase paraíso numa prisão flutuante" e que normalizar relações com Cuba não "dará legitimidade ao regime Castro".

Noonan esqueceu-se de Guantanamo, o centro prisional de tortura de Washington em Cuba onde centenas de pessoas inocentes têm sido mantidas e torturadas durante grande parte das suas vidas por americanos excepcionais. A Revolução Cubana pretendia libertar os cubanos da dominação estrangeira e da exploração por capitalistas estrangeiros. Seja qual for a probabilidade de êxito, meio século de hostilidade de Washington tem muito a ver com os problemas económicos de Cuba como ideologia comunista.

O sentimento de superioridade moral dos americanos é extremo. Noonan está feliz. O dinheiro americano está agora indo derrotar o trabalho de toda uma vida de Castro. E se o dinheiro não fizer isso, a CIA fará. A agência espera há muito vingar-se da Baia dos Porcos e a normalização de relações traz a oportunidade. 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A história está a ser contada de novo, mas noutra versão!!!


COMO VLADIMIR PUTIN DEU A VOLTA À ESTRATÉGIA DA OTAN



Thierry Meyssan- Rede Voltaire

A Rússia reagiu à guerra económica que lhe faz a Otan do mesmo modo como o teria feito numa guerra clássica. Ela deixou-se atingir pelas sanções unilaterais para melhor levar o seu adversário, para o terreno que ela própria escolheu. Simultaneamente, ela concluiu acordos com a China para preservar o seu futuro, depois com a Turquia para desorganizar a Otan. Como no passado, face à França ou à Alemanha, a sua derrota inicial poderá ser a garantia da sua vitória final.

uando da cimeira anual sobre Segurança, organizada pela Fundação Bertelsmann e pela Otan em Munique, em 2007, o presidente Vladimir Putin sublinhara que o interesse dos europeus ocidentais não estava apenas além Atlântico mas também, e sobretudo, com a Rússia. Desde então, ele cessou de tentar construir relações económicas, entre as quais a construção do gasoduto North Stream (Corrente do Norte-ndT) sob a direcção do antigo chanceler alemão Gerhard Schröder. Por seu lado, os Estados Unidos tudo fizeram para impedir esta aproximação, daí a organização do golpe de Estado em Kiev e a sabotagem do gasoduto South Stream (Corrente do Sul-ndT).

Segundo a imprensa atlantista, a Rússia teria sido severamente atingida pelas «sanções» unilaterais —na realidade acções de guerra económica— tomadas por ocasião da anexação da Crimeia à Federação, ou da destruição do Boeing da Malaysia Airlines, e pela queda dos preços do petróleo. O rublo perdeu 40% do seu valor, os investimentos desperdiçados no gasoduto South Stream custaram US $ 4,5 biliões, e o embargo alimentar custou US $ 8,7 biliões. Em última análise, garante a média (mídia-br) atlantista, a Rússia está agora arruinada e isolada politicamente.

Contrariamente, por outro lado, a imprensa atlantista esquece as consequências desta guerra económica na União Europeia. Para além da proibição das exportações de bens alimentares que é susceptível de destruir blocos inteiros da sua agricultura, a renúncia ao South Stream pesará gravemente no futuro da União pelo aumento do preço da energia.

Parece que as «sanções» unilaterais tiveram como consequência imprevista a queda dos preços do petróleo. Na verdade, estes começaram em 20 de junho, mas não saíram das variações normais senão no fim de julho, aquando das primeiras «sanções» económicas. Não tendo o preço do petróleo nenhuma relação com a lei da oferta e da procura, mas sim, como em qualquer mercado especulativo, com o volume de capitais que nele especulam, a saída dos capitais russos ao anúncio das sanções aceleraram o movimento. No princípio, atribuíu-se a baixa de preço do petróleo a um esforço da Arábia Saudita para afundar os investimentos norte- americanos no gás de xisto e nos petróleos não-convencionais mas, durante a reunião de Opep, ficou claro que os Sauditas, provavelmente, nada tinham a ver com o assunto. Alem disso, parecia impossível que Arábia Saudita especulasse contra o seu suserano americano.

De qualquer forma, a Rússia surpreendeu Washington invertendo o xadrez diplomático : Vladimir Putin foi à Turquia, estado membro da Otan, logo após o vice- presidente norte-americano Joe Biden, para fechar lá gigantescos acordos económicos. Não sómente eles contornam as sanções unilaterais da Aliança, mas, colocam-na profundamente em cheque.

A Turquia actual é, hoje, um país em vias de se tornar uma terrível ditadura. De acordo com o Departamento de Estado –portanto complacente “vis-à-vis” a um membro da Otan – a internet é censurada; o governo abusou do seu poder para impedir as investigações de corrupção, realizadas contra os seus membros e suas famílias; sancionou os polícias e os magistrados judiciais que conduziram estes inquéritos; as minorias não têm nenhuns direitos, à excepção de três minorias designadas no Tratado de Lausanne em 1923; o governo Erdoğan deteve centenas de prisioneiros políticos (principalmente oficiais superiores —do Exército/ndT— culpados de terem tido contactos com o Exército chinês, políticos da oposição, jornalistas e advogados); A tortura é generalizada, as detenções arbitrárias e assassinatos extrajudiciais são às carradas.

O Presidente Erdoğan fez construir o maior palácio do mundo para si próprio. Ele fê-lo num parque natural, quando a Justiça o havia proibido de tal. O que custou 615.000 milhões de dólares aos seus contribuintes.

A deriva criminosa da administração Erdogan tornou-se um assunto de grande preocupação no seio da Otan. Tanto mais que a Turquia revela tornar-se também um aliado recalcitrante. Assim, ela continua a ajudar os jiadistas na sua luta contra o povo curdo (muito embora este de maioria predominantemente sunita) em vez de se juntar activamente à coligação dos Estados Unidos contra o Emirado Islâmico. Foi por isso que o vice-presidente Joe Biden se dirigiu, em 22 de novembro, a Ancara, obviamente, para ameaçar o Presidente Erdoğan se ele não reentrasse na linha norte- americana.

No entanto, a 1 de Dezembro, Vladimir Putin também se dirigiu a Ancara. Separando as questões económicas das políticas, ele apresentou uma proposta longamente preparada: uma aliança económica, sem precedentes, entre as duas nações. Compreendendo que esta oferta inesperada era a sua única saída face a Washington, o presidente Erdoğan assinou todos os documentos que tinham sido redigidos pelos Russos. Ele aceitou o reforço do gasoduto submarino que liga o seu país à Rússia, via Mar Negro; ele comprou, a um bom preço, gás russo e até centrais(usinas-br) de energia nuclear civil para alimentar a sua indústria; ele fornecerá os seus produtos agrícolas à Rússia, apesar do embargo de todos os outros Estados da Otan; etc.

Para a Otan, o problema turco torna-se um pesadelo.

É certo que Vladimir Putin não mudou de ideias quanto a Recep Tayyip Erdoğan. É um pequeno criminoso que, tendo entrado para a Irmandade Muçulmana, foi projectado para o poder com a ajuda da CIA, e, que agora se comporta como um verdadeiro chefe mafioso. Mas, o presidente russo está acostumado a lidar com oligarcas ou chefes de Estado da Ásia central que não são melhores do que ele. Ele próprio atingiu o Kremlin ao infiltrar-se no círculo de Boris Yeltsin e de Boris Berezovsky.

Pelo seu lado, R.T. Erdoğan sabe que deve o seu poder à Otan, e que actualmente ela lhe pede contas. Ele não tem nenhuma dificuldade para fazer as grandes escolhas: aliado de Washington em política, e de Moscovo em economia. Ele sabe que nenhum Estado pôde jamais sair da Aliança, mas, ele imagina poder manter-se no poder através deste jogo duplo. Agora, olhemos a estratégia de Vladimir Putin.

O poder dos Estados Unidos reside, ao mesmo tempo, na sua moeda, que eles impõem ao resto do mundo via contrôlo do mercado do petróleo, e no seu exército.

A Otan acaba de lançar uma guerra económica contra a Rússia. Para efeitos da propaganda ela mascara os seus ataques sob o vocábulo «sanções». No entanto, sanções suporiam uma acusação, um julgamento e um veredicto. Não neste caso. As «sanções», as mais importantes, foram mesmo decididas após a destruição de um avião civil na Ucrânia, enquanto que, com toda a probabilidade, ele foi abatido pelas novas autoridades de Kiev.

Para responder a isto Vladimir Putin, primeiro, fez virar o futuro do seu país da Europa Ocidental para o Extremo-Oriente, assinando os contratos mais importantes da história com os seus parceiros chineses. Depois, ele utilizou a Turquia contra a Otan para contornar as «sanções» comerciais ocidentais. Seja com a China, ou com a Turquia, a Rússia vende a sua energia em moedas correntes locais ou em permuta, nunca em dólares.

Os peritos russos calcularam que Washington interviria se o preço do petróleo permanecesse, mais de seis meses, numa cotação abaixo dos 60 dólares, por barril. Há dois meses, o governador do Banco central russo, Elvira S. Nabiullina, atestava perante a Duma estar preparada para este cenário, com a sua instituição detendo as suficientes reservas.

Por consequência, se de momento a Rússia está a ser gravemente atingida pelo ataque económico da Otan, a situação poderá se inverter dentro de seis meses. Para manter a sua dominação mundial Washington seria, então, obrigada a intervir para fazer elevar os preços do petróleo. Mas, no entretanto, esta guerra teráafundado a União Europeia e a Otan, enquanto a Rússia terá mutacionado a sua economia para o lado do seu aliado chinês.

Em última análise, a Rússia está agindo, aqui, como ela sempre o fez. Anteriormente, ela utilizou a «estratégia de terra queimada» quando a França de Napoleão ou a Alemanha de Adolf Hitler a invadiram. Ela destruiu, por si mesmo em vez das tropas do inimigo, as suas próprias riquezas, e recuou sempre para o Extremo Oriente. Em seguida, ela contra-atacou os invasores esgotados pela sua demasiada profunda penetração.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Configuração da Nova Ordem Mundial Alternativa!!!


VIKTOR ORBAN DA HUNGRIA: NOVA IMAGEM DE INIMIGO DE WASHINGTON



F. William Engdahl* – Rede Voltaire

A recusa do Primeiro Ministro Viktor Orban e seu partido governante Fidesz de entrar na nova Guerra Fria dos EUA e da UE contra a Rússia, especialmente ao concordar com a construção do gasoduto South Stream, além das políticas adotadas contra a propriedade de bancos estrangeiros e empresas de energia, disparou os alarmes nas capitais ocidentais. De acordo com William Engdahl, a questão que agora tem que ser posta é: será a Hungria o próximo país a ser alvo de uma mudança de regime patrocinada por EUA/UE?

A Hungria e seu Primeiro Ministro populista nacionalista Viktor Orban entraram na mira das elites políticas de Washington. Seu pecado? Não ceder aos ditames muitas vezes destrutivos da Comissão da UE de Bruxelas; tentar definir uma identidade nacional húngara. Mas, seu pecado cardinal é sua profunda relação com a Rússia e seu desafio a Washington ao assinar um acordo com a Gazprom para trazer o gasoduto russo South Stream [Corrente do Sul] à UE através de Hungria.

Orban se submeteu a uma jornada política desde que foi eleito o segundo mais jovem Primeiro Ministro da Hungria em 1998. Naquela época, ele supervisionou a entrada da Hungria, juntamente com a Polónia e a República Checa, na OTAN, sob protesto na Rússia, e na União Europeia. Como Primeiro Ministro durante épocas econômicas muito mais prósperas na UE, Orban cortou impostos, aboliu a mensalidade da Universidade para estudantes qualificados, expandiu os benefícios de maternidade, e atraiu a indústria alemã com o baixo custo trabalhista húngaro. Um dos seu “conselheiros” americanos foi então James Denton, ligado à Freedom House, ONG das Revoluções Coloridas de Washington. Orban parecia o queridinho dos neo-cons de Washington. Em 2001, ele recebeu o Prêmio Liberdade [Freedom Award] do neoconservador Instituto Americano de Emprêsas [American Enterprise Institute]. [1]

Mas, em 2010, após seis anos na oposição, Orban retornou, desta vez, com uma maioria retumbante para o partido Fidesz, abreviação de União Cívica Húngara-Fidesz. Na verdade, o Fidesz ganhou a maioria absoluta de 68% no Parlamento, dando-lhe os votos necessários para alterar a constituição e passar novas leis, o que ele fez. Ironicamente, num caso de acusar os outros pelos seus próprios vícios, a administração de Obama dos Estados Unidos e o Parlamento Europeu discordaram da colocação de demasiado poder nas mãos do Fidesz. Orban foi acusado por Daniel Cohn-Bendit, do Partido Verde europeu, de adotar na Hungria o modelo de Hugo Chávez na Venezuela. [2] Ele definitivamente não estava jogando conforme o aprovado Livro de Regras de Bruxelas para políticos politicamente submissos da UE. Fidesz começou a ser demonizado na mídia da UE como a versão húngara da Rússia Unida, e Orban como o Putin húngaro. Isso foi em 2012.

Agora, a questão está ficando alarmante para os Atlanticistas e seus seguidores na UE. Orban desafiou as exigências da UE para parar a construção do importante gasoduto South Stream, da Rússia.



O gasoduto South Stream, da Rússia, juntamente com o Nord Stream, russo-alemão, garantiria gás para a UE, ignorando a guerra na Ucrânia, algo a que Washington se opõe totalmente por razões óbvias.

No último janeiro, o governo de Orban anunciou um acordo de €10 bilhões com a Empresa de Energia Nuclear do Estado russo para a renovação da única usina nuclear da Hungria, em Paks, originalmente construída durante a era soviética com tecnologia russa. [3]

Isso causou alguma atenção em Washington. Da mesma forma quando Orban criticou os Estados Unidos no verão passado por não ter, afinal, resolvido a crise financeira global que seus bancos e sua regulação negligente causaram, e elogiou a China, a Turquia e a Rússia como modelos melhores. Ele declarou, em palavras não muito diferentes das que eu tenho usado muitas vezes, que as democracias ocidentais “provavelmente serão incapazes de manter sua competitividade global nas próximas décadas e, em vez disso, serão reduzidas, a menos que sejam capazes de se transformar significativamente”.  [4]

Além disso, o governo de Orban conseguiu livrar a Hungria de décadas de escravidão devastadora praticada pelo IMF. Em agosto de 2013, o Ministério da Economia húngaro anunciou que tinha, graças a uma “política disciplinada de orçamento “, reembolsado os restantes €2,2 bilhões devidos ao FMI. Não mais onerosas privatizações forçadas de estatais pelo IMF ou condicionalidades. O chefe do Banco Central Húngaro exigiu então que o FMI fechasse seus escritóriosem Budapeste. Além disso, ecoando a Islândia, o Procurador Geral do Estado fez acusações contra três Primeiros Ministros anteriores do país por causa da quantidade criminosa de dívidas na qual mergulharam a nação. Isso é um precedente que certamente causa suor frio em algumas capitais da UE ou Washington e Wall Street. [5]

Mas os sinais reais de alarme dispararam quando Orban e seu partido Fidesz aprovaram a execução, junto com a vizinha Áustria, do gasoduto South Stream russo, ignorando os clamores da UE de que haveriam violado as regras da UE. Orban proclamou em uma reunião com Horst Seehofer da Alemanha, em Munique, em 6 de novembro: “ Es lebe die österreichisch-ungarische Energiemonarchie “ – “Viva a Monarquia da Energia austro-húngara”. [6]

As elites dos Estados Unidos soaram o alarme imediatamente. O jornal ultra-conservador New York Timespublicou um editorial de primeira página entitulado “Deslize perigoso da Hungria”. Eles declararam que “o governo do Primeiro Ministro Viktor Orban da Hungria está deslizando em direção ao autoritarismo e desafiando os valores fundamentais da União Europeia — e está-se safando do delito.”

O Times revelou a verdadeira causa do alarme de Washington e da Wall Street: “A expressão mais recente de desprezo da Hungria para com a União Europeia é a sua passagem de uma lei, na segunda-feira, que abriu caminho para o gasoduto South Stream de gás natural da Rússia atravessar a Hungria. A nova lei está em clara violação da chamada do Parlamento Europeu, em setembro, para os Estados-Membros cancelarem o South Stream e aplicarem sanções econômicas contra a Rússia, que foram impostas pela União Europeia e os Estados Unidos após ações da Rússia na Ucrânia. Em vez de emitir tépidas expressões de preocupação sobre políticas antidemocráticas, a União Europeia deveria estar-se movendo para sancionar a Hungria. Jean-Claude Juncker, o Presidente da Comissão Europeia, deve exercer seu poder para forçar o Sr. Navracsics a demitir-se.” [7] O húngaro Tibor Navracsics acaba de ser nomeado novo Comissário Europeu da Educação, Cultura, Juventude e Desporto, um posto em Bruxelas que indiscutivelmente tem pouco a ver condutos de gás.

Em seguida, podemos esperar que o Fundo Nacional para a Democracia [National Endowment for Democracy] e as ONGs apoiadas pelo governo dos EUA encontrem a desculpa usual para lançar protestos de oposição em massa contra Fidesz e Orban pelo seu crime imperdoável de tentar fazer a energia da Hungria independente da insanidade criada pelos EUA na Ucrânia.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Visão prospectiva de um verdadeiro visionário...


segunda-feira, 27 de Outubro de 2014

WASHINGTON TRAÇA NOVAS LINHAS DIVISÓRIAS PARA MANTER DOMÍNIO MUNDIAL




As tentativas dos EUA de formar coalizões “contra” e não “por” alguém vem criando um desequilíbrio em escala mundial, assinalou o presidente russo, Vladimir Putin, numa sessão final do Clube de Discussões Internacional Valdai. No seu entender, o desejo dos EUA de dividir o mundo se deve a uma forte aspiração de atingir o domínio mundial. Em resultado disso, o conceito de “soberania nacional” se tornou, para a maioria de Estados, um valor relativo.

Em vez de regularização de conflitos, temos assistido à sua escalada, em vez de Estados estáveis e seguros – um crescente descalabro e caos, em vez de democracia – o predomínio de ideias nacionalistas e radicais. Após o colapso da URSS, os EUA se declararam um único líder mundial sem se importar de se interrogarem até que ponto este novo paradigma teria sido justo e racional, salientou Putin, intervindo perante peritos internacionais:

“Nas condições de domínio de um só país e de seus aliados, ou melhor dizendo, satélites, a procura de soluções globais se traduz no desejo de impor suas receitas na qualidade de modelos universais. As ambições desse grupo cresceram tanto que as abordagens elaboradas nos corredores do poder passaram a ser apresentadas como a opinião da comunidade mundial. O conceito de “soberania nacional”, para a maioria dos países, se tornou um valor relativo. No essencial, foi proposta uma fórmula: quanto maior for a fidelidade ao único pólo de influência mundial, tanto mais elevada será a legitimidade de um ou outro regime governante”.

Aqueles que não aceitarem essa fórmula, se defrontarão com ações de força, sanções econômicas e a forte pressão propagandística. Em algumas ocasiões, contra os líderes se usam várias formas de chantagem aberta – o “grande irmão” costuma gastar bilhões de dólares para a realização de campanhas de espionagem, inclusive contra seus aliados mais próximos. Washington precisa disso para ostentar a sua exclusividade”, frisou o presidente da Rússia, Vladimir Putin:

“Temos visto as tentativas de fragmentar o mundo, traçar linhas divisórias e formar coalizões segundo o princípio “contra” alguém e não em prol de alguém ou de alguma coisa, formar uma imagem de inimigo e obter o direito à liderança, ou seja, o direito de impor a sua vontade onde quer que seja. Sabemos como era vista e interpretada a situação internacional na época de “guerra fria” – os EUA diziam aos aliados: “Temos um inimigo comum, inimigo terrível em que se concentram todos os males. Nós vamos defender os aliados contra esse inimigo maligno, por isso temos o direito de mandar, forçar a sacrificar seus interesses políticos e económicos, a arcar com as despesas necessárias para a defesa coletiva, da qual iremos tomar conta”. Hoje, num mundo diferente em constante mudança, transparece a aspiração de realizar os esquemas tradicionais de governação global no intuito de garantir a sua exclusividade e obter, deste modo, seus dividendos políticos e econômicos”.

Neste contexto, não importa muito o fato de quem se tornará nesse “pólo do mal” universal: o Irã, no seu afã de criar tecnologias nucleares, a China, como a primeira potencia econômica mundial ou a Rússia, como a superpotência nuclear. O importante é que sem a luta contra esse “inimigo”, Washington não poderá concretizar seus planos ditatoriais.

Ao mesmo tempo, tais tentativas têm tido pouca coisa a ver com realidade que vivemos, surtindo um efeito contrário. Assim, misturando a política com a economia, as autoridades de muitos países têm vindo a prejudicar seus interesses nacionais. As intentonas de impor suas regras de jogo têm demonstrado a sua incapacidade de fazer frente aos desafios globais como o terrorismo, o narcotráfico e o extremismo religioso.

No entanto, existem as vias de ação alternativas, indicadas e seguidas já pelos países membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Para a união desses países com as economias emergentes não é necessário criar imagens de inimigo externo. O BRICS tem perseguido objetivos diferentes no sentido de dinamizar e estreitar as relações entre os Estados e não as afrouxar ou debilitar.

A Rússia fez sua opção. Ela não necessita de “exclusividade”. Mas, respeitando os interesses de outros Estados, ela pretende insistir em que seus interesses sejam levados em conta e que a sua posição seja também respeitada.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Bastando somente a integração da Alemanha para que a hegemonia dos EUA se escamoteei e emerja uma nova ordem mundial que destaque economias emergentes da América do Sul e África!!!


SERÁ QUE A RÚSSIA E CHINA ESTÃO ALTERANDO A ORDEM MUNDIAL?




A Rússia e China pretendem rever a ordem mundial, formada nos últimos 70 anos, declarou o vice-ministro da Defesa dos EUA, Robert O´Work, ao intervir no Conselho Americano para Relações Internacionais.

Leonid Kovachich

Nas suas palavras, a tarefa de Washington consiste em convencer-se de que Pequim e Moscou não irão usar a força para garantir os seus interesses.

O vice-ministro da Defesa dos EUA está preocupado com o fato de os dois países reforçarem suas posições ao lado de suas fronteiras – a Rússia no oeste e a China – em mares adjacentes. “Devemos dispensar atenção especial a essa circunstância. Temos de determinar ao nível estratégico como iremos trabalhar agora com duas potências regionais muito fortes”, assinalou O´Work.

“A Rússia e China gostariam de alterar alguns aspetos da ordem mundial, formada após a guerra. Mas esses países devem conhecer que os EUA podem responder com métodos militares à ameaça a seus aliados”, apontou o vice-ministro.

O que subentendia o funcionário americano referindo-se à alteração da ordem mundial? A América havia utilizado seu domínio econômico após a Segunda Guerra Mundial para reforçar sua influência no mundo. Ao mesmo tempo, até os finais dos anos 80, a situação no mundo esteve em equilíbrio graças a outro sistema sociopolítico, a União Soviética, que se encontrava em estado de guerra fria com os Estados Unidos. Mas, como resultado da desintegração da URSS, a América livrou-se de seu único rival.

Sob a cobertura da garantia da segurança coletiva e da contraposição com métodos da força ao terrorismo, os EUA começaram a entrar em territórios de outros países, instaurando lá regimes pró-americanos. Tais métodos, contudo, nem sempre levaram aos fins desejados. Isso, em parte, explica a preocupação dos Estados Unidos, considera o vice-diretor do Instituto dos EUA e do Canadá, Pavel Zolotarev.

“Ainda em 2008, o então presidente da Ucrânia, Viktor Yuschenko, pretendia concretizar o programa de entrada do país na Otan. Os Estados Unidos tentavam também arrastar a Geórgia para a aliança militar com a ajuda de Mikheil Saakashvili. Destaque-se que os líderes ucranianos e georgianos coordenavam entre si esses esforços. Assim, grupos militares e meios de defesa antiaérea ucranianos foram instalados no território da Geórgia. Esta foi a primeira tentativa de alterar radicalmente a situação na região”.

A segunda tentativa havia sido preparada durante muitos anos, aponta o vice-diretor do Instituto dos EUA e do Canadá. Forças pró-americanas chegaram ao poder na Ucrânia através de um golpe de Estado. Previa-se que a Rússia teria o acesso limitado ao mar Negro e, afinal das contas, perderia a base naval na Crimeia.

Esta operação também fracassou. Em resultado de um referendo, a Crimeia anunciou a independência e posteriormente aderiu à Rússia. O malogro do cenário de afastamento da Rússia da Crimeia provocou uma onda de descontentamento no Ocidente. Pelo visto, é nisso que se encerra a ameaça que a Rússia representa para os aliados dos EUA, da qual falou o vice-ministro da Defesa americano, Robert O´Work.

Mas qual é a China? Com o crescimento de sua potência econômica, a China não quer mais ficar na sombra no palco de política externa. O país tenta alargar sua influência na Ásia. Em parte, essa postura manifesta-se no fato de a China ter começado a declarar mais rigidamente seus interesses em disputas territoriais, o que irrita muito os Estados Unidos, diz o dirigente do Centro de Segurança Internacional, Alexei Arbatov.

“A China, por exemplo, reclama direitos à ilha de Spratly, pretendendo monopolizar nesse território a extração de hidrocarbonetos. Esse fato preocupa muito Vietnã, tal como Indonésia, Tailândia e Malásia. Os receios daqueles países não são vãos. Obama tentará conseguir que a China não crie ameaças para os aliados americanos mais próximos, como o Japão, Coreia do Sul, países do Sudeste Asiático”.

Na realidade, a América não quer simplesmente perder suas esferas de influência, nas quais assenta a nova ordem mundial. Por isso, o crescimento da influência da China se classifica como ameaça a aliados e a integração voluntária da Crimeia na Federação da Rússia se considera como anexação.

O problema não consiste em que outros países alterem artificialmente a distribuição das forças que se formou há 70 anos. O mundo não é imóvel, aparecem novas potências capazes de competir econômica e geopoliticamente com o antigo líder. Ao mesmo tempo, a possível aproximação de concorrentes é o aspecto mais desagradável para os Estados Unidos.

Assim, por exemplo, a mídia americana havia declarado repetidas vezes que a aproximação de Moscou e Pequim é pior que uma guerra fria para Washington. Conjugando seus esforços, os dois países podem ultrapassar militarmente os EUA, não deixando para a América um lugar na Ásia.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quando errar (propositadamente) só é humano por causa da sagacidade "yankee"...


OBAMA ERRA E ERRA: O ISIL É, SIM, ISLÂMICO; E É SIM, ESTADO




"Estamos combatendo uma ideologia, não um regime." - John Kerry, secretário de Estado dos EUA 

"Vamos deixar bem claras duas coisas: o ISIL não é "Islâmico". Nenhuma religião prega o assassinato de inocentes, e a vasta maioria das vítima do ISIL foram muçulmanas. E o ISIL com certeza não é Estado. Foi antes afiliado da al-Qaeda no Iraque, e extraiu vantagens da luta sectária e da guerra civil na síria, para ganhar território dos dois lados da fronteira Iraque-Síria. Não é reconhecido por nenhum governo, nem pelo povo que subjuga. O ISIL é organização terrorista pura e simples. E não tem qualquer outra visão além do massacre de todos que se interponham no caminho dele." - Barack Obama, presidente dos EUA

Alastair Crooke, Conflicts Forum 

Falando claro, mas claro mesmo: a premissa básica do presidente Obama (e de Kerry), de que os EUA e aliados estão combatendo uma ideologia desviante, não islâmica, que deve e pode ser deslegitimada reunindo contra ela o mundo árabe sunita para que a declare "não islâmica" só faz provar e comprovar o quão pouco a dupla realmente SABE sobre o ISIL - contra o qual estão indo à guerra.

No Islã não existe "verdadeiro Islã". Jamais houve qualquer autoridade central no Islã que pudesse definir tal entidade. Para o melhor e para o pior (principalmente para o melhor), o Islã sempre teve muitas faces. Mas, paradoxalmente, há hoje uma orientação que, sim, é a única que se apresenta como o tal 'verdadeiro Islã': o wahhabismo.

Como observa o professor As'ad AbuKhalil:

"O que Mohammed Ibn 'Abdul-Wahab dizia e repetia - e seus seguidores dizem e repetem hoje - é que os homens com a espada julgam em nome de Deus na terra, e sobre todos os assuntos, dos maiores aos menores. É onde o Reino Saudita e o ISIL combinam perfeitamente. Estão fora dos limites do Islãmainstream, porque se recusam a conceder, sequer, que falam só como representantes de uma seita. Os wahhabistas (de todas as bandeiras) protestam até contra o adjetivo "wahhabistas": "somos os únicos muçulmanos", dizem. Significa que só eles são muçulmanos, e o resto do mundo é povoado por kafirs[incréus] que têm de ser combatidos como os antigos pagãos do tempo de Maomé. Os wahhabistas dizem que representam o 'verdadeiro Islã', quando a força do Islã ao longo das eras sempre esteve no fato de que jamais existiu essa coisa de 'o verdadeiro Islã'."

Assim sendo, só a Arábia Saudita - e o ISIL repete - insistem nessa noção de 'verdadeiro Islã que Obama-Kerry tentam ressuscitar. Apenas para registrar a informação: essa comunhão de ideias deriva de a Arábia Saudita e o ISIL partilharem uma mesma base doutrinal, "O livro do monoteísmo", texto chave de Abd al-Wahhab.

Em resumo, o ISIL é tão wahhabista quanto o rei Abdullah da Arábia Saudita. Há aqui, sem dúvida, uma engraçada ironia: Obama e Kerry estão aí, super empenhados na tarefa de tentar "deslegitimar" a própria doutrina da qual nasceu o reino saudita!

Fato é que o defensor-promotor do "verdadeiro Islã" e guardião de Meca é também fiel zelador do "mesmo" Islã que o ISIL. Como poderia o rei Abdullah denunciá-lo?

Ao mesmo tempo, como pode alguém supor que algum muçulmano, que vive familiarizado com essas questões e conhece a fundo essas discussões, algum dia levará a sério essa 'conversa' de Obama-Kerry?

E SIM, SIM, O ISIL É ESTADO

John Kerry estaria certo se dissesse que a al-Qaeda é uma ideologia, não um regime. Mas erra sobre oISIL. Diferente da al-Qaeda que só tinha "uma ideia", o ISIL tem projeto e objetivos claros: estabelecer o "principado" de Deus aqui e agora. Tem uma doutrina para como fazer existir tal estado (extraída das guerras lançadas para estabelecer o Estado Islâmico original); controla hoje território maior, em tamanho, que a Grã-Bretanha; tem consideráveis recursos financeiros; tem exército muito bem armado e equipado (cortesia dos EUA, da Grã-Bretanha e outros); tem comandantes militares competentes; e tem um líder que, na opinião de muitos, disse muito bem a que veio (pelo menos, na única ocasião em que se deixou ver em público).

Em resumo, esse desenvolvimento (o "Estado Islâmico") pode, sim, ser problema muito mais grave, com fundamentos muito mais firmes, com muito mais apelo às massas muçulmanas, que a conversa fiada ocidental sobre "bandidos" e "degoladores cruéis" pode(ria) fazer crer.

O verdadeiro alvo dos EUA e seus aliados árabes é o presidente Assad

Vários estados árabes e do Golfo alistaram-se com Washington para combater o ISIL, mas exclusivamente porque planejam enfiar um Cavalo de Troia na agenda da "guerra".

Os soldados escondidos na barriga do "cavalo" de madeira estão reunidos - não para dar combate ao ISIL -, mas para guerra muito diferente. Querem converter a guerra em renovada ofensiva contra o presidente Assad e a Síria. De fato, na reunião preliminar feita em Jeddah, os estados árabes definiram uma nova arquitetura de segurança árabe que converteria a "guerra contra o ISIL" em guerra não só contra o ISIL, mas também contra o presidente Assad e todos os islamistas (esperam, claramente, empurrar o ocidente para guerra maior contra a Fraternidade Muçulmana, Hamas, Hezbollah, etc.). Em artigo recente, o conhecido colunista saudita Jamal Kashoggi:

"Pode-se pois dizer que eliminar o ISIL exige também a eliminação de Assad (...) A operação deve visar o aliado de Moscou em Damasco e derrubá-lo, ou preparar o caminho para derrubá-lo (...) Essa talvez seja a explicação lógica de por que a Arábia Saudita aprovou manter campos de treinamento para a oposição síria moderada. É equivalente a declarar guerra indireta ao regime sírio (...) A Aliança de Jeddah  [orig. Jeddah alliance] é a oportunidade de um recomeço, para todos. Não se limita à tarefa imediata de eliminar o ISIL, mas também inclui a possibilidade de expansão no rumo de reformar a situação no Iraque e na Síria."

A posição dos EUA é nuançada: não será de "coordenação" com Damasco, mas vai "desconflitar" [orig.deconflict] (palavras de Kerry) a relação com Damasco.

As Forças Armadas sírias são comprovadamente efetivas, em termos militares, e os EUA sabem disso; e, afinal "o único jogo na cidade" (como se diz) é o ISIL. Assim sendo, os EUA, ao que parece, concederam - como migalha jogada ao Golfo, para mantê-lo engajado - que os sauditas de certo modo modificassem a "guerra contra o ISIL" e a reorientassem na direção de derrubar o presidente Assad.

Essa reorientação combina confortavelmente com a narrativa de 'desculpas preventivas' do Golfo, de que oISIL não seria alguma espécie de movimento neo-wahhabista de vanguarda, mas, meramente, uma "reação" natural dos sunitas, brotada das políticas sectárias de Assad e do ex-primeiro-ministro Maliki do Iraque.

A Arábia Saudita - como contribuição para derrotar o ISIL - pois treinará e armará 5 mil oposicionistas "moderados" para que retornem à Síria. Os EUA compreendem perfeitamente bem que o objetivo desses "moderados" (como se seus patrocinadores sauditas) será derrubar Assad - não combater o ISIL (com os quais os "moderados" sírios já estão entendidos e coordenados em campo e já têm um pacto de não agressão).

O exército sírio tem 130 mil soldados, mais 100 mil auxiliares. Não é que as brigadas sauditas sírias - até aquisem registro de sucesso em campo - possam derrubar o presidente Assad, mas deixará a política dos EUA ainda mais incoerente e a Síria ainda mais ensanguentada.

Se há dois protagonistas na Síria - o Exército Árabe Sírio e o ISIL - então os EUA não têm escolha: é seu dever preferir Assad. Mas os EUA não podem fazer tal coisa, sem ofender a Arábia Saudita. Então os EUA entram nessa guerra com um braço amarrado às costas (pelos próprios árabes do Golfo, 'aliados' dos EUA).

No quintal sírio tão estrategicamente importante para o ISIL, os EUA não têm parceiro visível e direto - de fato, como comentou Ryan Crocker, ex-embaixador dos EUA no Iraque e na Síria: "Temos de fazer todo o possível para descobrir quem é a oposição [síria] não-ISIL. Francamente, não temos nenhuma pista" - mas só podem trabalhar com Assad de modo indireto e que possa ser completamente negado (o que os EUA já estão fazendo).

Mas os EUA não podem, de fato, acalentar qualquer esperança de derrotar o ISIL nas atuais circunstâncias - e com os 'aliados' no Golfo (e muitos think-tanks também 'aliados') fazendo de tudo para turvar as águas e meter dentro da Síria o próprio exército de 'moderados' treinados pelos sauditas, para enfraquecer Assad; enquanto isso, Kerry vai "desconflitando" a coisa com o presidente da Síria.

Ataques aéreos dos EUA vistos como antissunitas, não como anti-ISIL

Mesmo no Iraque, as limitações da coalizão anti-ISIL já se vão tornando mais visíveis. Ataques aéreos ali serão vistos, não como ataques contra o ISIL mas como ataques contra as próprias comunidades sunitas nas quais o ISIL fundiu-se e nas quais mergulhou. (O governo iraquiano já teve de suspender ataques aéreos, pela mesma razão.)

Os xiitas iraquianos defenderão seus territórios com o  máximo vigor, mas podem bem decidir não entrar no Vale do Eufrates, que tem longa história como coração do território de sunitas militantes. Bagdá não quererá converter a guerra em total conflito sectário, e a guerrilha Peshmerga não terá nem desejo nem meios para fazer mais do que proteger as próprias comunidades. Em resumo, o ISIL pode vir a descobrir que, na verdade, não há desejo regional algum de reparar a fratura do Iraque; que a região só deseja, mesmo, que a fratura seja contida e não aumente.

O ISIL NÃO AMEAÇA OS EUA

Tudo isso considerado, o Estado Islâmico é algum tipo de ameaça? Vale a pena recordar que, diferente da al-Qaeda, o objetivo primário do ISIL não é tanto provocar os EUA para uma super-reação, até a implosão (como Bin Laden acreditava que a guerra no Afeganistão tivesse feito à União Soviética).

O ISIL não é, obviamente, indiferente aos EUA, mas o seu foco principal é implantar o Principado de Deus na Terra e instituir a Lei de Deus. Não surpreende que vários funcionários do governo dos EUA digam que o ISILnão ameaça, atualmente, a pátria norte-americana.

Ao ISIL o que interessa é ganhar território por meios militares, firmar e dar segurança às suas fronteiras, eliminar a idolatria e a heresia e implantar fisicamente, no mundo real, um Califato.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A multipolaridade a ganhar forma e conteúdo, o mundo só ganha com isso!!!


CHINA COLOCA EUA NO SEU DEVIDO LUGAR



Vladimir Fedorov – Voz da Rússia

A China colocou publicamente os EUA no seu devido lugar. O escândalo aconteceu em Naypyidaw, capital de Mianmar, no Fórum Regional da ASEAN para a segurança. Nesse fórum o ministro chinês das Relações Exteriores Wang Yi não apenas chamou à atenção do secretário de Estado dos EUA John Kerry. Ele angariou o apoio, na avaliação da situação no mar da China Meridional, por parte da maioria dos países da ASEAN.

A situação na Ásia se agrava, por isso os EUA e a ASEAN têm uma responsabilidade comum pela garantia da segurança nos mares, regiões terrestres e portos estrategicamente importantes, declarou John Kerry.

A China e a ASEAN já encontraram vias para a resolução dos problemas do mar da China Meridional. A situação aí estabilizou e também não há problemas para a livre navegação, respondeu Wang Yi. Ele discursou no fórum depois do secretário de Estado dos EUA.

A China não vê com bons olhos as especulações por parte de algumas pessoas sobre a chamada tensão em torno do mar da China Meridional, sublinhou o diplomata chinês. Ele apelou aos países da ASEAN para estarem atentos a planos secretos na avaliação da situação nessa bacia.

Entretanto Wang Yi rejeitou a intenção dos EUA em aumentar sua presença na região. Wang Yi propôs uma “abordagem em dois vetores” que exclui a participação dos EUA na regulação de disputas na Ásia. De acordo com Wang Yi, elas devem ser resolvidas exclusivamente através de consultas e negociações amigáveis entre os países envolvidos nesses problemas, assim como pela linha China-ASEAN. O perito do Centro de Análises de Estratégias e Tecnologias Vassili Kashin considera esse modelo de resolução de divergências como o mais adequado para a China:

“A China continua sendo o maior e mais influente país da região, por isso ela poderá obter um resultado desejável se lidar sozinhos com seus vizinhos. Por outro lado, os EUA tentam agora dinamizar sua política de contenção da China. Para isso eles começam anunciando cada vez mais suas posições, sobretudo em relação ao mar da China Meridional. Eles associam o problema territorial ao problema da liberdade de navegação. Sua preocupação pela situação serve de pretexto para um apoio político a países do Sudeste Asiático e para o seu aproveitamento como um instrumento e transmissor da política norte-americana. A China reage vigorosamente a isso. Entretanto as Filipinas estão ligadas aos EUA por uma aliança militar e, em caso de conflito militar, os EUA têm obrigações de assistência às Filipinas. Isso é um fator fortemente irritante para as relações entre a China e os EUA.”

Nesse contexto, não foi de surpreender o tom do discurso do ministro das Relações Exteriores das Filipinas Albert del Rosario no Fórum Regional da ASEAN. Ele apoiou o papel dos EUA na regulação das divergências no mar da China Meridional. O ministro expressou sua extrema preocupação pelo aumento da agressividade e pela ocorrência de diversas provocações nas águas em disputa.

Entretanto, os outros países da ASEAN recusaram diplomaticamente a proposta de John Kerry sobre uma intervenção dos EUA na regulação das disputas. Eles não discutiram o “plano Kerry”, tendo recordado que ainda em 2002 eles tinham assinado com a China um acordo de “observância de moderação” no mar da China Meridional.

Houve outra coisa que chamou a atenção. O Vietnã se absteve de quaisquer vênias na direção de John Kerry e de críticas à China, apesar de recentes trabalhos de perfuração, por parte de uma plataforma chinesa na zona offshore em disputa, terem agravado seriamente as relações sino-vietnamitas.

A Rússia, por sua vez, confirmou que a ingerência de terceiros países na resolução de disputas territoriais no mar da China Meridional era contraproducente. Isso foi declarado pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia Igor Morgulov, que chefiou a delegação russa ao Fórum Regional da ASEAN e a outras iniciativas da ASEAN em Naypyidaw.

“Nós não somos participantes nessa disputa, por isso não apoiamos nenhum dos lados. Os próprios participantes da disputa territorial devem resolvê-la dentro de um formato definido por eles próprios”, sublinhou o diplomata russo. Ele apelou igualmente a uma resolução dos problemas existentes pela via político-diplomática e com base no direito internacional.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Retoma, porque visão corroborada, do texto de José Goulão!


OS INIMIGOS VARIÁVEIS



José Goulão

Ao poder económico e político mundial não lhe bastam a supremacia conquistada e sedimentada com base no autoritarismo militar e na manipulação propagandística.

O regime planetário que a si próprio se identifica como “a democracia” e age como polícia dessa democracia demonstra que não sobrevive e não se basta através das suas supostas razões.

O regime imperial precisa de inimigos e quando não os tem cria-os ou inventa-os. Isto é, tal espécie de democracia não é auto sustentável, melhor dizendo, não se trata de democracia.

O regime global que agora assenta, sem restrições, na arbitrariedade selvática dos mercados financeiros e antes disso foi o amparo da restauração agressiva e tão generalizada quanto possível do capitalismo monopolista, nunca se desenvolveu sem inimigos.

Primeiro, a União Soviética e os seus “satélites”, que mesmo quando não eram passavam a sê-lo, por obra da propaganda. Depois, emergiram variantes, quase sempre pouco convincentes, até que a deriva acabou no regresso à origens, à velha “ameaça russa”, agora literalmente e não, como noutros tempos, um chavão de propaganda contra o regime soviético.

Quando o muro de Berlim ruiu e as democracias mercantis tomaram de assalto os “satélites europeus” da antiga URSS, forçando a transição abrupta do mercado centralizado para a anarquia de mercado, não foi necessário muito tempo para se perceber que o Império ficou órfão de inimigo. Queria cavalgar a onda, tirar proveito rapidamente e em força da unipolaridade recém instaurada, mas faltavam-lhe pretextos, às vezes necessários porque os satélites imperiais nem sempre são tão homogéneos como deveriam ser e estão sujeitos a birras e caprichos. O velho aliado Saddam Hussein transformou-se, assim, no monstro que abriu a era das guerras expansionistas com rótulo visível ou disfarçado da OTAN, instrumento de guerra fria transformado em operador global da guerra quente.

A seguir, os grupos terroristas surgidos como criaturas da CIA & irmãos transitaram para o estatuto repartido de amigos nuns sítios e inimigos noutros; foram indispensáveis em guerras como as da Jugoslávia, do Afeganistão, da sequela do Iraque, da Líbia, da Síria e o mais que adiante se verá. O estatuto híbrido, porém, não assegura a estes bandos as credenciais convincentes de inimigos puros, duros e absolutos.

O golpe imperial na Ucrânia serviu, como é visível, para restaurar o velho inimigo, mesmo sendo a Rússia na sua versão putinista ou neo czarista. Ainda há a questão pendente do Irão, mas perderá sempre para a velha “ameaça russa”, além do mais com tentações para se juntar à incómoda China, à estratégica Índia, aos “rebeldes” que tiveram o atrevimento de sair do velho “quintal das traseiras” na América Latina.

Com Putin e  Moscovo no papel de inimigos “da democracia e da liberdade” – interpretadas na Ucrânia por grupos fascistas, mas isso para o caso não interessa nada – a OTAN praticamente fechou o cerco militar à Rússia. Washington e Bruxelas alarmam-nos com as hipóteses de a todo o momento “Putin poder invadir a Ucrânia” enquanto, na prática, as tenazes imperiais  são capazes de o impedir, hoje muito mais do que ontem, ontem muito mais do que anteontem.

Um inimigo a sério, mesmo que seja criado através  da estratégia da provocação sucessiva, é o maior aliado das tramoias dos mercados financeiros porque, nem que seja através da manipulação propagandística, é indispensável para criar no mundo as variantes que as proporcionam.