segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A multipolaridade a ganhar forma e conteúdo, o mundo só ganha com isso!!!


CHINA COLOCA EUA NO SEU DEVIDO LUGAR



Vladimir Fedorov – Voz da Rússia

A China colocou publicamente os EUA no seu devido lugar. O escândalo aconteceu em Naypyidaw, capital de Mianmar, no Fórum Regional da ASEAN para a segurança. Nesse fórum o ministro chinês das Relações Exteriores Wang Yi não apenas chamou à atenção do secretário de Estado dos EUA John Kerry. Ele angariou o apoio, na avaliação da situação no mar da China Meridional, por parte da maioria dos países da ASEAN.

A situação na Ásia se agrava, por isso os EUA e a ASEAN têm uma responsabilidade comum pela garantia da segurança nos mares, regiões terrestres e portos estrategicamente importantes, declarou John Kerry.

A China e a ASEAN já encontraram vias para a resolução dos problemas do mar da China Meridional. A situação aí estabilizou e também não há problemas para a livre navegação, respondeu Wang Yi. Ele discursou no fórum depois do secretário de Estado dos EUA.

A China não vê com bons olhos as especulações por parte de algumas pessoas sobre a chamada tensão em torno do mar da China Meridional, sublinhou o diplomata chinês. Ele apelou aos países da ASEAN para estarem atentos a planos secretos na avaliação da situação nessa bacia.

Entretanto Wang Yi rejeitou a intenção dos EUA em aumentar sua presença na região. Wang Yi propôs uma “abordagem em dois vetores” que exclui a participação dos EUA na regulação de disputas na Ásia. De acordo com Wang Yi, elas devem ser resolvidas exclusivamente através de consultas e negociações amigáveis entre os países envolvidos nesses problemas, assim como pela linha China-ASEAN. O perito do Centro de Análises de Estratégias e Tecnologias Vassili Kashin considera esse modelo de resolução de divergências como o mais adequado para a China:

“A China continua sendo o maior e mais influente país da região, por isso ela poderá obter um resultado desejável se lidar sozinhos com seus vizinhos. Por outro lado, os EUA tentam agora dinamizar sua política de contenção da China. Para isso eles começam anunciando cada vez mais suas posições, sobretudo em relação ao mar da China Meridional. Eles associam o problema territorial ao problema da liberdade de navegação. Sua preocupação pela situação serve de pretexto para um apoio político a países do Sudeste Asiático e para o seu aproveitamento como um instrumento e transmissor da política norte-americana. A China reage vigorosamente a isso. Entretanto as Filipinas estão ligadas aos EUA por uma aliança militar e, em caso de conflito militar, os EUA têm obrigações de assistência às Filipinas. Isso é um fator fortemente irritante para as relações entre a China e os EUA.”

Nesse contexto, não foi de surpreender o tom do discurso do ministro das Relações Exteriores das Filipinas Albert del Rosario no Fórum Regional da ASEAN. Ele apoiou o papel dos EUA na regulação das divergências no mar da China Meridional. O ministro expressou sua extrema preocupação pelo aumento da agressividade e pela ocorrência de diversas provocações nas águas em disputa.

Entretanto, os outros países da ASEAN recusaram diplomaticamente a proposta de John Kerry sobre uma intervenção dos EUA na regulação das disputas. Eles não discutiram o “plano Kerry”, tendo recordado que ainda em 2002 eles tinham assinado com a China um acordo de “observância de moderação” no mar da China Meridional.

Houve outra coisa que chamou a atenção. O Vietnã se absteve de quaisquer vênias na direção de John Kerry e de críticas à China, apesar de recentes trabalhos de perfuração, por parte de uma plataforma chinesa na zona offshore em disputa, terem agravado seriamente as relações sino-vietnamitas.

A Rússia, por sua vez, confirmou que a ingerência de terceiros países na resolução de disputas territoriais no mar da China Meridional era contraproducente. Isso foi declarado pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia Igor Morgulov, que chefiou a delegação russa ao Fórum Regional da ASEAN e a outras iniciativas da ASEAN em Naypyidaw.

“Nós não somos participantes nessa disputa, por isso não apoiamos nenhum dos lados. Os próprios participantes da disputa territorial devem resolvê-la dentro de um formato definido por eles próprios”, sublinhou o diplomata russo. Ele apelou igualmente a uma resolução dos problemas existentes pela via político-diplomática e com base no direito internacional.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Retoma, porque visão corroborada, do texto de José Goulão!


OS INIMIGOS VARIÁVEIS



José Goulão

Ao poder económico e político mundial não lhe bastam a supremacia conquistada e sedimentada com base no autoritarismo militar e na manipulação propagandística.

O regime planetário que a si próprio se identifica como “a democracia” e age como polícia dessa democracia demonstra que não sobrevive e não se basta através das suas supostas razões.

O regime imperial precisa de inimigos e quando não os tem cria-os ou inventa-os. Isto é, tal espécie de democracia não é auto sustentável, melhor dizendo, não se trata de democracia.

O regime global que agora assenta, sem restrições, na arbitrariedade selvática dos mercados financeiros e antes disso foi o amparo da restauração agressiva e tão generalizada quanto possível do capitalismo monopolista, nunca se desenvolveu sem inimigos.

Primeiro, a União Soviética e os seus “satélites”, que mesmo quando não eram passavam a sê-lo, por obra da propaganda. Depois, emergiram variantes, quase sempre pouco convincentes, até que a deriva acabou no regresso à origens, à velha “ameaça russa”, agora literalmente e não, como noutros tempos, um chavão de propaganda contra o regime soviético.

Quando o muro de Berlim ruiu e as democracias mercantis tomaram de assalto os “satélites europeus” da antiga URSS, forçando a transição abrupta do mercado centralizado para a anarquia de mercado, não foi necessário muito tempo para se perceber que o Império ficou órfão de inimigo. Queria cavalgar a onda, tirar proveito rapidamente e em força da unipolaridade recém instaurada, mas faltavam-lhe pretextos, às vezes necessários porque os satélites imperiais nem sempre são tão homogéneos como deveriam ser e estão sujeitos a birras e caprichos. O velho aliado Saddam Hussein transformou-se, assim, no monstro que abriu a era das guerras expansionistas com rótulo visível ou disfarçado da OTAN, instrumento de guerra fria transformado em operador global da guerra quente.

A seguir, os grupos terroristas surgidos como criaturas da CIA & irmãos transitaram para o estatuto repartido de amigos nuns sítios e inimigos noutros; foram indispensáveis em guerras como as da Jugoslávia, do Afeganistão, da sequela do Iraque, da Líbia, da Síria e o mais que adiante se verá. O estatuto híbrido, porém, não assegura a estes bandos as credenciais convincentes de inimigos puros, duros e absolutos.

O golpe imperial na Ucrânia serviu, como é visível, para restaurar o velho inimigo, mesmo sendo a Rússia na sua versão putinista ou neo czarista. Ainda há a questão pendente do Irão, mas perderá sempre para a velha “ameaça russa”, além do mais com tentações para se juntar à incómoda China, à estratégica Índia, aos “rebeldes” que tiveram o atrevimento de sair do velho “quintal das traseiras” na América Latina.

Com Putin e  Moscovo no papel de inimigos “da democracia e da liberdade” – interpretadas na Ucrânia por grupos fascistas, mas isso para o caso não interessa nada – a OTAN praticamente fechou o cerco militar à Rússia. Washington e Bruxelas alarmam-nos com as hipóteses de a todo o momento “Putin poder invadir a Ucrânia” enquanto, na prática, as tenazes imperiais  são capazes de o impedir, hoje muito mais do que ontem, ontem muito mais do que anteontem.

Um inimigo a sério, mesmo que seja criado através  da estratégia da provocação sucessiva, é o maior aliado das tramoias dos mercados financeiros porque, nem que seja através da manipulação propagandística, é indispensável para criar no mundo as variantes que as proporcionam.