O LABORATÓRIO AFRICOM - I
Martinho Júnior, Luanda
Em
África há uma íntima correlação entre os fenómenos de natureza
físico-geográfico-ambiental e as culturas humanas, com uma história longa, de
milénios.
Essa
correlação não passou despercebida aos laboratórios de desestabilização de
algumas potências, tendo como objectivo último a manutenção dos seus próprios
processos de domínio que incluem o continente africano, mantendo-o no seu papel
subdesenvolvido de fornecedor de matérias-primas e de mão-de-obra barata e, por
essa via na deliberada periferia dos seus sistemas-em-cadeia.
O
lançamento do AFRICOM que, é preciso lembrar, mantém o seu centro de decisões
na Europa, veio estimular de forma muito subtil a arquitectura de planos que
fazem o aproveitamento dessa correlação, com vista a objectivos que começam até
a pôr em causa o desenho do mapa sócio-político africano estabelecido com a
Conferência de Berlim.
Se
atendermos às declarações de funcionários superiores do Pentágono, numa altura
em que se esboçava o AFRICOM, o caso de Theresa Whelan, Subsecretária da Defesa
para África em 2011, os Estados Unidos “estavam muito preocupados” com “áreas
sem governação” no Continente.
Disse-o
em Lisboa, onde se deslocou nos contactos prévios para a gestação do AFRICOM e
onde aproveitou para se referir a essas mesmas preocupações em relação a Angola
e Moçambique, tendo em conta as experiências com os processos de
desestabilização de que foram respectivamente protagonistas Savimbi, Dlakhama e
as organizações que chefiavam.
Os
Estados Unidos sabiam antes de formar o AFRICOM, da impossibilidade de controlo
de fronteiras em muitas regiões de África, prticularmente ali onde os desertos
se expandem, no Sahara, no Sahel, ou em Ogaden e isso de forma alguma isso
deixou de estar em linha de conta no laboratório do Pentágono!
Percebiam
assim, na base da correlação dos factores físico-geográficos-ambientais com os
factores humanos, que a Conferência de Berlim deixava em aberto e para
explorar, muitas fragilidades, sobretudo nas zonas desérticas, onde
proliferavam comunidades nómadas e onde se impunha a terra de ninguém sobre
qualquer veleidade de estado.
Se
a essa correlação fosse acrescentada um impacto de desestabilização, o
Pentágono poderia tirar partido imediato do caos em expansão e para isso a
Líbia perfilhava-se desde logo e em laboratório, como o alvo a atacar, dum modo
tão subtil quanto o necessário para que só com o tempo se pudesse perceber a
geo estratégia norte americana em África!