quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Os "JAGUAR" e o dilema dos deputados da oposição!


Cá estou, mais uma vez, para deixar o comentário sobre um assunto interessante da nossa política interna angolana.

Só das pessoas que advoga que tem faltado argúcia aos políticos da oposição e de sectores independentes da sociedade civil (incluindo os movimentos revolucionários juvenis, os nossos manif's) para a criação de verdadeiros factos políticos.

Para questões com poucos ganhos na disputa do eleitorado a oposição consegue abandonar sessões parlamentares, em bloco, como demonstração de desacordo e protesto.

Agora, quando se trata de distribuição de regalias, de benesses e envelopes a oposição tergiversa, não tuge, nem muge, esquiva como a avestruz (enterra a cabeça na areia para esconder-se, esquecendo-se que o resto do corpo fica descoberto).

Seria bom que, para a questão dos "Jaguar" dos deputados, a oposição actue em bloco no sentido da rejeição, bastando usar argumentos já postados no artigo, mas adicionando, em tom provocatório e democraticamente correcto, sobre a contradição da aquisição de viaturas protocolares para os deputados no valor global de USD 60 milhões, com o "slogan" crescer mais para distribuir melhor lançado pelo partido maioritário como o objectivo fulcral para a nova legislatura.

Embora alguns deputados novos, sobretudo os da oposição (porque os do M, sabendo que os seus colegas farão esforços por si, nem aparecem), queixar-se-ão dos prejuízos materiais, mas os ganhos dentre o eleitorado serão maiores. 

O problema é que o eleitorado da classe média, os mais exigentes e determinantes, sabe que em 2008 a Assembleia Nacional disponibilizou USD 150 mil para cada deputado para aquisição de viatura, em 2010 a mesma augusta Assembleia requisitou os BMW e agora, mais anos depois, vêm os Jaguar.

Aja coerência política e paciência para aturar desvaries...

domingo, 14 de outubro de 2012

Comunicação social ganha notícia!

Só daquelas pessoas que advoga a "desnecessidade" de um departamento governamental para atender a comunicação social, mormente, desde que os órgãos públicos ganharam o estatuto de empresa pública, constituídos por conselhos de administração. Mas, independentemente dos meus argumentos de razão, não podia deixar de parabenizar o novel Ministro da Comunicação e Social, José Luís de Matos. Sendo um conhecedor dos corredores, lobbies e correlação de forças do referido ministério, da supervisão do poder político-partidário, dos grupos visíveis e ocultos que "mexem" com a informação/manipulação, desejo-lhe êxitos...

O NOVO JORNAL (NJ), ao surgir no espaço mediático angolano, veio a calhar, porque coincidiu com as operações de "oferta pública de aquisição" que acabaram por adquirir as acções de semanários tidos como "hostis" e/ou incómodos. O golpe mais duro, para mim, em particular, foi a metamorfose forçada do SEMANÁRIO ANGOLENSE (SA), meu jornal predilecto até então. Esse golpe foi mais duro porque implicou o calar de uma das vozes mais autorizadas, ou uma das penas mais afinadas, do nosso jornalismo, GRAÇA CAMPOS. E não posso deixar passar de forma despercebida o comentário que teceu ao NJ sobre a campanha e os resultados eleitorais, onde foi igual a si mesmo, apesar da ausência...

Pois, o NJ, além de ocupar bem o espaço deixado pelo SA, trouxe também de volta outra pena afinada do nosso jornalismo, GUSTAVO COSTA. Coincidentemente, ambos nomes têm a mesma abreviatura, GC. Semelhanças à parte, o NJ destaca-se igualmente pela qualidade das suas fontes. Mas, de forma alguma coloco em plano inferior o concurso dos seus redactores, em especial à Isabel João, que recentemente foi galardoada pelo seu empenho e profissionalismo. Os colaboradores não ficam atrás, marcam bem o princípio da pluralidade de ideias, "democraciticidade" no jornalismo é aqui bem aplicada...

E tudo isso acabou com a premiação, com direito à maboque, de GUSTAVO COSTA. Já era sem tempo, depois do Prémio Nacional de Jornalismo, em 2010, mas com "rasgos" à compensação, por inexplicavelmente não ter sido premiado, apesar do contributo que já dera ao jornalismo. Agora sim, de mérito, honras para si. Parabéns!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As eleições, período pós-eleitoral, as redes sociais e eu...

1. Estou de volta, agora na tentativa de me iniciar como "blogger" regular. Tomei essa decisão depois de muita insistência dalguns amigos (uns de amizade antiga e outros de nova, sobretudo, virtual) por terem notado a minha ausência. Tal facto (ausência) deveu-se a motivos que, em parte são pessoais, relacionados com a minha aversão ao Facebook, por considerá-lo uma ferramenta democrático-liberal demais para o meu gosto (disposição à invasão de certa privacidade) por um lado e, por outro, por me terem limitado o direito de tecer alguns comentários noutros blogs, a começar pelo meu predilecto até altura em que era possível comentar directamente, o "morrodamaianga" de Wilson Dadá, seguindo-se o "páginaglobal" e "circuitoangolanointelectual", cujos comentários jamais foram publicados, apesar dalgumas tentativas.

2. Passaram-se quase um ano então. Decido entrar justamente no período pós-eleitoral, depois do presidente da CNE ter divulgado os resultados eleitorais definitivos na última sexta-feita (07.09) confirmando a vitória do MPLA com pouco mais de 70% do total dos votos escrutinados, proporcionando-lhe 175 deputados, no cômputo geral (círculos nacional e provinciais) para a próxima legislatura, secundado pela UNITA com mais de 18% (32 deputados no total), seguindo-se a novel CASA-CE que obteve mais de 6% (8 deputados apenas pelo círculo nacional), o PRS (1,69%) que elegeu 3 deputados e a FNLA (1.08%) que conseguiu 2 assentos pelo círculo nacional. As demais formações partidárias e coligações de partido não conseguiram atingir os "mínimos" recomendados por lei.

3. Antes de debruçar-me sobre a actual fase de reclamações de irregularidades nalguns dos actos administrativos praticados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), com possibilidade de recurso contencioso eleitoral junto do Tribunal Constitucional (TC) impulsionadas por dois partidos políticos (UNITA e PRS) e uma coligação de partidos (CASA-CE) concorrentes ao pleito de 31.08 último, ater-me-ei sobre as várias leituras já possíveis de fazer sobre o desempenho dos partidos e dos eleitores antes, durante e depois do sufrágio.

4. O período que antecedeu a votação foi marcado pelas campanhas eleitorais. Salvo alguns laivos de provocação, com direito à réplicas e tréplicas, chamo para aqui a reacção do MPLA que se queixou dos "insultos" dos seus adversários (UNITA, CASA-CE e PRS) clima próprio em ocasiões do género, a campanha ocorreu dentro dos parâmetros democráticos. Porém, não se sabe se por estratégia, ou por falta dela, alguns concorrentes da oposição, ao invés de se destacarem por discursos moderados, coerentes e "politicamente correctos", apresentaram-se com opções paradoxais, discursos musculados, anacrónicos e até inflamados (referências pejorativas e descriminatórias de Kamalata Numa sobre os "crioulos" e origem de certos dignitários com destaque para o cabeça de lista do MPLA).

5. Sinceramente, a opção de Numa foi infeliz, porque caluniosa, injuriosa e difamatória, contrária a reconciliação nacional. Mas, mais infeliz foi ainda o espectro de fraude antecipada recorrentemente "radiado" pela UNITA (argumento que já cansa porque remonta desde as eleições inconclusivas de 1992 com as consequências conhecidas por quem as viveu), seguida da expectativa criada a volta do impasse a participação ou não ao pleito, na tentativa de inviabilizar o processo de votação. Essa estratégia previa igualmente a realização de manifestações. Nas vésperas da votação, Isaías Samakuva solicita uma audiência  presidencial, atitude que levantou suspeições de "armadilha".

6. O período pré-votação foi ainda marcado por uma inflamação nos discursos do líder da CASA-CE (que até vinha pautando-se por uma actuação coerente) sobretudo porque voltados mais para fora do que para dentro, tal como se viu na mensagem "enviada" aos embaixadores de países ocidentais acreditados em Angola em que salientava a rejeição dos votos a serem escrutinados nas assembleias e mesas de votos em que não esteja representado por um delegado de listas. Tal atitude levou a que jovens ligados à referida coligação se dirigissem às instalações da CNE para contestar a desaprovação de alguns dos seus candidatos a delegados de lista em pleno dia reservado à reflexão (30.08). Viu-se depois que tudo foi orquestrado na vã pretensão de se criar facto político.

7. Felizmente imperou o bom-senso e tanto a CASA-CE quanto a UNITA, essa última sobretudo "in extremis", participaram da votação. Os eleitores, nas vestes de detentores do poder político a ser transferido aos seus representantes, esses sim deram uma lição aos políticos, aos angolanos, aos africanos e ao mundo de amadurecimento político e civismo inesperado. Um autêntico exemplo à Africa e ao mundo!

8. Os resultados eleitorais, além das percentagens sobre os votos conseguidos por cada concorrente, trouxeram outras verdades absolutas. Cresceram as percentagens sobre a abstenção, os votos em branco e nulos. Hoje discute-se sobre as causas, razões e dimensões dessas formas de fazer democracia, vantagens e desvantagens para os concorrentes ante aos votos não escrutinados (por abstenção e por invalidade) que, somados, perfazem uma percentagem acima  dos 40%.

9. Para isso concorreram vários factores, dos quais destaco alguns a seguir:

Do ponto de vista organizacional

  • Manutenção de eleitores falecidos no FICRE (cerca de 700.000).
  • Cerca de 2 milhões de eleitores que não actualizaram o seu registo, tendo sido distribuídos aleatoriamente às assembleias de voto pela solução tecnológica, em função da residência de 2008.
  • Ausência de urnas especiais, tal como ocorreu nas eleições de 2008.
  • Recuo da CNE quanto à votação antecipada para os militares e para-militares em serviço.
  • Recuo da CNE quanto ao voto no exterior.
  • Indicação de assembleias de voto distante dos locais de residência.


Do ponto de vista da estratégia dos partidos

  • O MPLA ignorou o crescimento da consciência crítica dos angolanos, sobretudo nos grandes cascos urbanos de Luanda e Benguela, sem descurar a "especialidade" Cabinda, fechando-se "em copas" sobre as reivindicações feitas por jovens universitários e sectores da sociedade civil que não pactuam com as suas opções.
  • A oposição não foi capaz de capitalizar e puxar para si o voto dos indecisos, descontentes e desiludidos para com a governação do MPLA.
  • A UNITA terá desmobilizado para a votação parte dos seus militantes e/ou simpatizantes com a tentativa de inviabilizar o processo de votação.
  • A CASA-CE não conseguiu cooptar para si o voto da classe média e dos intelectuais por, a dada altura, ter baixado o nível da sua campanha (a referência "gatunos" e "ditadores" não foi bem acolhida por esses sectores).

10. Verdade seja dita, o baixo nível de escolaridade também contribuiu para a elevação dos votos inválidos, sobretudo, os nulos. Tende a aumentar o número de indignados que, mesmo deslocando-se às assembleias, vota em branco e/ou torna o voto nulo propositadamente. Dessa forma, todos os partidos, incluindo o vencedor, têm tarefas para casa até ao próximo pleito (as autárquicas estão já aqui na esquina). Até lá, nós seguiremos os passos que serão dados para a conquista do eleitorado e consolidação da democracia!